Slayer – Repentless (2015) [single]

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Lançado em junho de 2015, esse novo single dos veteranos do thrash metal já chega mostrando que a banda não vai deixar seu nível descer, nesse novo álbum de mesmo nome.

Quando se fala em Slayer não é injustiça nenhuma dizer que a banda não aposta em estruturas diferenciadas na composição das faixas e em outras temáticas que fogem do comum “sangue, guerra e sangue” padrão do thrash metal, mas isso não quer dizer que a banda não consiga emplacar musicas boas e sei lá, até meio divertidas de ouvir. Os riffs dos caras, apesar de (quase) sempre se enquadrar no 4/4 basicão, são muito enérgicos e cheios daqueles palm mutes que dão um peso a mais pro som.

Deixando de lado a analise técnica, é bom lembrar que os caras estão com dois novos membros em relação à formação de seu ultimo álbum, World Painted Blood (2012), que são eles Gary Holt (Exodus), guitarrista que tem tocado com a banda desde que o Jeff Hannerman ficou incapacitado de tocar e morreu posteriormente, e Paul Bostaph, baterista que já esteve tocando com os caras antes da volta do Dave Lombardo em 2001, agora retorna para cobrir o buraco que ficou aberto quando Dave foi demitido por Kerry King em 2013.

Repentless, diferente do primeiro lançamento recente da banda, Implode, não deixa a desejar quando o que se espera é uma boa musica do Slayer, que poderia muito bem ter saído de algum outro álbum consagrado da banda como o Christ Illusion (2007) ou até o Divine Intervention (1994). Se você também se encontra tão curioso quanto eu pra ouvir esse novo álbum, que até o final do ano deve estar sendo lançado, é o caso de sentar e esperar mesmo.

Nota final: 7/10

Brand New – Mene (2015) [single]

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Os nova-iorquinos do Brand New se mostram de volta com o single Mene, que pode muito bem aparecer em um futuro álbum da banda.

O Brand New não lança um álbum desde 2009 com o emblemático Daisy, LP que mostrou novamente o quão versátil a banda pode ser na hora de sentar em compor uma música. Este é um álbum cheio de contrastes entre as faixas com pegadas agitadas, e outras que lembram mais o grandioso lançamento anterior da banda, The Devil And God Are Raging Inside Me (2006), não deixando para trás os elementos de rock alternativo e emo revival.

Neste novo single não há nenhuma estrutura muito bem elaborada, só a básica e simples verso-refrão-verso-refrão que define bem os quase 2 minutos e meio desse curto lançamento. Existe alguma pegada pop punk embutida nos dois gêneros citados anteriormente, mas é algo meio sutil para ser colocado como se a banda estivesse seguindo outra direção ou coisa do tipo.

Dessa vez o frontman Jesse Lacey faz proveito de seus usuais vocais gritados mixados em cima de vocais mais limpos com backing vocals de Vincent Accardi, dinâmica também já vista anteriormente em outros álbuns da banda.

Apesar de ser uma faixa simples e chiclete até demais, Mene chega a deixar o ouvinte com aquele gosto de “quero mais disso aí”. É sabido que já fazem SEIS anos do ultimo álbum dos caras, o que ultrapassa o padrão de 2-3 anos para se lançar um full-length e deve estar deixando sua fã base no mínimo ansiosa. Tomara que, com esse novo single, se desencadeie o lançamento de mais material novo, e material de qualidade que é característico da banda.

Nota final: 7/10

Confira abaixo o videoclipe do single:

Godspeed You! Black Emperor – Asunder, Sweet and Other Distress (2015)

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É consensual que todo apaixonado por post rock conheça pelo menos alguma coisa sobre Godspeed You! Black Emperor. Mas, pra quem não conhece o GY!BE é um dos grupos instrumentais mais renomados do gênero e se tornou uma febre entre por álbuns consagrados como F#A#∞ (1997) e Lift Your Skinny Fists Like Anthennas to Heaven (2000). A banda canadense, composta atualmente por nove integrantes, é um projeto instrumental muito dinâmico e tem como característica fundamental músicas geralmente longas e com temáticas dentro da sociopolítica.

Sendo o segundo álbum desde a volta da banda em 2010/2011, é seguro dizer que Asunder, Sweet and Other Distress guarda consigo um material ímpar em relação a seus discos anteriores. Esses riffs bem stoner/doom metal da primeira faixa “Peasantry or ‘Light! Inside of Light!”, por exemplo, é algo exclusivo desse álbum. Essa faixa é uma combinação perfeita de peso, com esses riffs bem arrastados ao melhor estilo Electric Wizard e toda aquela base mágica de violino da musicista Sophie Trudeau.

Quem ouve o LP percebe também que dessa vez o GY!BE apostou em um jeito diferente para estruturar e organizar as músicas do álbum. Bom, se ficou um ponto de interrogação bem grande na sua testa agora não se preocupa que eu vou explicar. É como se o disco fosse focado na primeira e na última música, sabendo que são quatro faixas no total, as outras duas (que são justificadamente mais curtas) servem como se fosse um respiro pro ouvinte dizendo “Calma que até o final do álbum vai ter mais coisa boa”. E definitivamente, no final do disco realmente tem coisa boa. A última faixa, intitulada “Piss Crowns Are Trebled”, é uma música densa (porém, não tanto quanto a primeira) e bem dinâmica. Ela tem aquele jeitão bem drone, com partes repetidas mesmo, mas é como se do nada todo aquele lance abstrato e dissonante do começo se moldasse em algo grandioso e empolgante que te segue até o final do LP.

Tudo é muito conceitual em Godspeed You! Black Emperor. É comum encontrar, junto com seus discos em mídia física (CD, vinil, cassete etc.) e capas bem feitas, pedaços de papel explicando todo o tema abordado no álbum em questão, mas, parece que dessa vez a banda não quis explanar o que foi pensado por trás desse novo lançamento.
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Sendo sincero como sempre, fico muito feliz que os caras estejam em atividade novamente, mas não recomendaria Asunder, Sweet and Other Distress para alguém que deseja conhecer a banda. Não posso dizer que esse material novo seja algo ruim, muito menos medíocre, mas ainda sim uma experiência limitada em relação aos outros lançamentos grandiosos da banda. Não falando do GY!BE, mas post rock em si tem bandas com um aspecto meio limitado e dificuldades em inovar. Um exemplo gritante disso é o álbum Another Language (2014) da banda This Will Destroy You, que são 47 minutos de faixas com estruturas iguais ou bem similares e aquelas mesmas fórmulas de acordes menores e afinação padrão. Acho que já é hora de certas bandas colocarem a mão na consciência e deixarem cair a ficha de que as pessoas não querem mais ouvir só mais um “álbum qualquer de post rock”. Já existem muitos “álbuns qualquer” por aí.

Nota final: 7/10

Palinha:

Deafheaven – Sunbather (2013)

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Sabe quando um álbum que você normalmente não depositaria muita confiança se torna um dos seus favoritos? Acabou acontecendo comigo esse último mês quando encontrei o Sunbather em algum tópico de fórum de música sobre álbuns marcantes dessa década, o que realmente o define sem nenhum exagero. A banda californiana Deafheaven usou e abusou de shoegaze mais uma vez nesse LP, obviamente sem deixar de lado o black metal que também acompanha a banda desde seu primórdio.

É claro que já existiam bandas que usavam essa mistura (carinhosamente chamada por alguns de Blackgaze) antes como Alcest e Lantlôs, mas parece que dessa vez os caras levaram isso tudo a outro nível com essas músicas relativamente compridas e densas, as vezes com partes mais calmas e melodias relaxantes.
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O começo do álbum me lembra muito Lantlôs pelo timbre das guitarras e até mesmo na estrutura da música, a faixa “Dream House” é um convite que prende o ouvinte, deixando-o curioso para ver o que mais o LP pode apresentar.

Realmente gostei da maioria das faixas, mas a que mais me chamou atenção foi a faixa-título “Sunbather” que começa com uma avalanche de guitarras super distorcidas bem lo-fi típicas de black metal desenhando uma atmosfera simplesmente sensacional. Falando nisso, não espere por vocais que diferem do gutural padrão do metal extremo nesse álbum (não que isso seja necessariamente um ponto ruim do mesmo).

De certo é perceptível a vontade que os caras da Deafheaven têm de fazer algo bem feito, a música “Please Remember” com aquele violão e guitarras limpas é de longe uma das coisas mais profundas e emocionais que eu já ouvi e eu nunca podia esperar que isso viesse de uma banda de metal extremo. Mas aí é que tá, esse é mais um álbum que prova que black metal funciona muito bem quando fundido com outros elementos que vão alem desse gênero tão expressivo indo contra seu estereótipo, exemplos perfeitos disso são os álbuns: Bergtatt do Ulver e o Circle the Wagons do Darkthrone.

Vejo Sunbather como mais um presente que essa nova geração de bandas do tão controverso post metal vem trazendo para nós ouvintes. Não diria que foi algo muito fácil de ouvir e entender, mas não levou tempo para me fazer um fã dos caras e ficar de olho em seus próximos lançamentos.

Nota final: 9/10

Palinha:

Torche – Restarter (2015)

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Carregando consigo músicas densas e instrumentais definitivamente pesados em contraste com vocais limpos e intensos, esse novo do Torche ta aí para agradar desde o cara que não liga muito pra cena do metal, quanto os fãs mais devotos de stoner e sludge metal.

Restarter já começa explodindo nos seus ouvidos com a faixa “Annihilation Affair” com uma pegada que, na minha cabeça, lembra bastante Meshuggah com aquele tipo de riff principal bastante groovado e guitarras em afinação mais grave, esse groove que te acompanha por todo o álbum pode ser colocado como um diferencial da banda.  A música também conta com aqueles vocais limpos do guitarrista Steve Brooks que me remete muito ao vocal limpo do Troy Sanders (Mastodon).  O Torche criou um jogo com o mesmo nome dessa faixa com temática sci-fi pós-apocalíptico e usou como recurso de promover o álbum.

Tem momentos no LP que são ridículos de tão empolgantes, o refrão de “No Servants” e o riff principal da Minionsse encaixam bem nessa definição. As músicas nesse álbum são, em sua maioria, bem curtas e não passam da marca dos 4 minutos (a não ser pela música homônima ao álbum que tem 8 minutos) tornando Restarter algo bem fácil de ser ouvido.

As guitarras em Restarter foram mixadas para ficar com aquele resultado bem sujo e distorcido, tem muito pedal de fuzz no som dos caras. E pode se dizer que isso casou bem com as afinações insanas que a banda usa.

Se tratando de um lançamento recente, e de uma banda que não teve tanta notoriedade quanto Mastodon e Kylesa (mas que não deixa a desejar em qualidade), pode se dizer que o álbum é uma das melhores coisas nessa direção que 2015 nos trouxe até agora. A banda teve definitivamente um bom trabalho em compor algo tão dinâmico e enérgico que realmente dá gosto de ouvir.

Nota final: 8,5/10

Palinha:

Earl Sweatshirt – I Don’t Like Shit, I Don’t Go Outside (2015)

Featured image   22 horas de um dia qualquer estava eu costumeiramente voltando da faculdade, moro numa casa em cima de um morro, e enquanto subia este morro a segunda música do álbum do qual lhes escrevo tocava em meu celular, Mantra, e era incrível como ela aderia bem o ambiente ao meu redor, as nuvens escuras no céu estrelado cobrindo um pouco da lua até o facho de luz dos postes que iluminavam gatos empoleirados em cima dos muros, era tudo muito atmosférico ao mesmo tempo em que a faixa me sugava para um universo muito pessoal e introspectivo de Earl, onde as letras, volte e meia falando de coisas objetivas e compreensíveis, alternavam prum abstracionismo que já marcava presença no álbum prévio do rapper, Doris.

 Drop this when the sunlight gone, better run right home when the sky turn black

Earl sempre foi o melhor MC do coletivo de rap Odd Future, encabeçado por Tyler, The Creator. Desde a primeira mixtape do rapper (intitulada Earl) já ouvíamos resquícios de que escondido por trás daqueles beats divertidamente mal produzidos e secos e por das letras exageradamente violentas, respirava uma promessa. O problema de Earl talvez tenha sido ser muito influenciado pelo seu meio nessa primeira obra, que soa mais como uma derivação de Bastard, do seu colega Tyler.

Depois veio Doris, aonde fomos apresentado a um Earl mais focado em seu próprio estilo, e que por mais pessoal e abstrato que o álbum seja, não deixa de ter uma ligação ao Odd Future, Earl ainda não havia encontrado sua sonoridade, mas tinha chegado perto.

IDLSIDGO é Earl soando mais Earl que nunca. A produção do álbum conta com beats lo-fi embalando letras que transitam entre o abstracionismo até depressão por falta de amigos, solidão, luto e tudo mais. Sim, é um álbum bem emotivo, não bastasse isso o flow de Earl casa perfeitamente com a produção, que pontualmente conta com momentos instrumentais bem inspirados, daqueles que faz você arregalar os olhos e falar “Meu irmão, sente esse baixo“.

A vida do rapper sempre foi muito turbulenta e basta ver algumas entrevistas dele pra ver que ele é um cara retraído, tímido, mas que sabe do que fala e entende das angústias da vida, mesmo que por sua própria ótica. Earl já estudou num internato contra sua vontade e ficou um tempo afastado do coletivo, até atingir a maioridade e também perdeu sua avó em 2013, pessoa a qual Earl deixa evidenciado em muitas letras ter sido alguém importante em sua vida. Earl é aquela típica pessoa que encontra na música a voz ideal pra se expressar, é assim que esse álbum soa, como um grande lamento para com a vida ao mesmo tempo em que o rapper se mostra seguro na sua carreira, crente de que é um dos melhores MC’s e ciente de seu talento.

 Chasing these rabbits whole face in the faucet  

A sinceridade de Earl ao decorrer do álbum cativa e agonia, maravilha e entristece, tudo isso em um curto período de duração, o álbum não chega a passar da marca dos quarenta minutos, mas tudo bem, é o suficiente.

 Lately i’ve been panicking a lot, feeling like i’m stranded in a mob, scrambling for Xanax out the canister to pop

O álbum conta com features de Da$h, Wiki, Na’kel e o usual colaborador de Earl em outras faixas, Vince Staples. Todos os feats são bem empregados e contribuem para o teor atmosférico do álbum.

Earl não se preocupa em ser um dos grandes rappers da atualidade e busca meios de produção não tão comuns ao ouvinte usual de rap, fugindo até mesmo do padrão de produção Odd Future que marcava seus trabalhos prévios, aqui temos um artista único trilhando seu próprio caminho sem dever satisfações, apenas sendo verdadeiro consigo, o que pra mim, traz Earl próximo a figura de Kendrick Lamar nesse aspecto mais ideológico e de se manter fiel aquilo que faz.

O álbum pode parecer simples e direto demais, mas é verdadeiro, e certamente te deixa curioso pra saber o que virá em seguida na carreira do rapper.

 I Dont Like Shit, I Dont Go Outside vai te fazer se sentir no fundo do oceano sentado próximo a corais do lado de Earl, e vocês trocam pensamentos sobre a vida, você se sente bem e fica feliz em ouvir seu amigo, mas existe um clima de paranoia no ar, vocês ainda tem que desviar dos tubarões.

NOTA FINAL: 9.0/10

Palinha:

Tribulation – Children of the Night (2015)

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Dispondo de uma atmosfera bem gothic metal com influências de black metal (e até prog metal), a banda sueca Tribulation lança seu terceiro álbum entitulado Children of the Night na segunda semana de Abril deste ano.

Children of the Night se mostra um álbum poderoso e robusto, mas que também sabe ser melódico quando for coerente.  Os guitarristas Adam Zaars e Jonathan Hultén fazem muito bem seu trabalho em deixar todas as faixas com aquele aspecto de música bem feita. Suas guitarras marcantes e os vocais gritados do baixista Johannes Andersson são acompanhados de órgão e violoncelo durante pontuais partes do álbum dando aquela temática gótica bem característica citada anteriormente.

“Strange Gateways Beckon” abre esse novo LP com áridos versos  sobrepondo bases de guitarra limpa, assim dando passagem para a música “Melancholia” que já mostra a banda com uma pegada mais uptempo e pesada. Algo que se repete em outras faixas ao decorrer do álbum como “The Motherhood Of God” e até na instrumental “Själaflykt”.

Combinando a densidade característica do metal extremo e todos aqueles riffs e solos dobrados em intervalos de terças do metal clássico, Tribulation coloca mais um álbum único para enriquecer ainda mais a discografia da banda. Com menos de 1 hora, Children of the Night só deixa a desejar no seguinte quesito: a banda acaba por repetir algumas vezes suas mesmas fórmulas e estruturas durante as músicas do álbum (mas não é nada que faça com que você descarte ouvi-lo).Infelizmente, não existe maneira de cativar a todos os fãs de metal extremo ou de heavy metal clássico, mas a banda chega perto disso, fazendo de  Children Of The Night  uma grata surpresa.

Nota final: 8,5/10

Palinha:

Blur – The Magic Whip (2015)

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Faz 12 anos desde o lançamento do último álbum de estúdio do Blur, Tink Thank. E considerando que estamos falando do Blur, uma banda de extrema popularidade no cenário britpop responsável por ajudar em uma grande renovação de gênero, 12 anos é bastante tempo pra deixar qualquer fã com o hype em alta. Ainda mais levando em conta que a formação se encontra completa novamente, com a volta do guitarrista Graham Coxon, muita gente deve esperar bastante desde álbum de retorno.

Mas The Magic Whip parece não se importar com esses 12 anos de abstinência, ou em cumprir expectativas. Ele simplesmente existe e não tem vergonha de assumir uma identidade própria. Veja bem, é um álbum simpático que não quer tentar ser melhor que 13, Blur, Parklife ou qualquer outro álbum na discografia da banda. Se você pudesse ter uma conversa com esse disco e lhe perguntasse “Uau, mas 12 anos é bastante tempo ein?” ele provavelmente responderia “É? Nossa, nem vi passar” e logo em seguida soltaria uma gostosa gargalhada cuja fonética complementaria bem o clima frio e colorido na praça japonesa na qual vocês estão sentados em banquinhos tomando um sorvete.

Pra quem não conhece Blur muito bem, é uma banda inglesa formada em Londres encabeçada por Damon Albarn, um cara com criatividade em excesso e muitos projetos paralelos que influenciaram, de uma maneira ou de outra, na separação temporária do Blur.

Albarn é um dos grandes nomes da música britânica, ligado não só ao Blur como também ao Gorillaz e outros projetos de menor notoriedade. É palpável a influência do Blur que vaza na sonoridade do primeiro álbum do Gorillaz (auto-intitulado), assim como The Magic Whip também tem resquícios do projeto e lembra em certos momentos a atmosfera de um dia de inverno regado a chá que o último álbum solo do músico (Lonely Press Play, lançado ano passado) possui. A banda consegue no entanto preservar sua identidade, mesmo com todas essas facetas ainda existe aquela camada eletrônica na produção do instrumental que acrescenta (e muito) em algumas faixas, como Ice Cream Man e I Thought I Was a Spaceman. Ainda em termos instrumentais, existem guitarras que bebem do shoegaze em riffs muito bem construídos que casam com o arranjo ocidental do álbum de uma maneira estranhamente orgânica. Você sabe que está ouvindo um pedacinho da Inglaterra e do Japão nas músicas, e o casamento dessas sonoridades não é nada menos que primoroso.

Pra quem sente falta do Blur que satirizava estereótipos com sua maneira única de retratar a sociedade, a faixa There Are Too Many Of Us está aí pra você, ainda que de uma maneira mais melancólica.

A música que inicia o álbum, Lonesome Street sintetiza a sonoridade da banda neste álbum e prepara bem o ouvido do ouvinte. Em seguida vem New World Towers, faixa que soa como a intro da melhor música do Gorillaz que nunca existiu repetida em loop.

O primeiro single lançado, Go Out, soa ainda melhor no contexto do álbum e é difícil não balançar a cabeça ao riff e refrão extremamente dançantes.

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As poucas faixas que podem não te agradar muito na primeira ouvida acabam por crescer nas ouvidas seguintes, e por final, The Magic Whip se torna uma experiência auditiva extremamente agradável.

É um álbum bem atmosférico, e que diferente de muito álbum por aí, você não precisa entrar na atmosfera dele ou estar com um mindset específico pra curtir a “vibe“, não, The Magic Whip amigavelmente projeta sua atmosfera ao redor do ouvinte, sendo uma experiência bem digerível.

O LP é bem influenciado pela cultura japonesa também, tanto em certos arranjos instrumentais quanto em conteúdo lírico, como nas músicas Ghost Ship e Pyongyang. Essa influência oriental também é marcante na apresentação visual, seja no clipe de Go out e Lonesome Street ou na capa do LP, um sorvete em neón com letrinhas japonesas ao redor, e se deve ao fato do álbum ter sido todo gravado em Hong Kong.

Fãs de longa data certamente vão se deparar com um bom álbum da banda, e também não posso deixar de recomendar o álbum o suficiente para aqueles que não são familiarizados com nada do grupo, ou até pro típico amigão do “ah, é aquela banda do wuuu huuu e do clipe da caixinha de leite?

The Magic Whip parece um passeio numa pracinha japonesa em um dia frio, onde você foi comprar um sorvete misto só que a máquina emperrou e só tinha de creme, mas tudo bem, de repente você percebe que gosta bastante de sorvete de creme.

NOTA FINAL: 9/10

Palinha:

E A Terra Nunca Me Pareceu Tão Distante – Vazio (2014)

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Lançado em 23 de novembro de 2014, o EP Vazio da banda paulista E A Terra Nunca Me Pareceu Tão Distante mostra a força que o post rock vem tomando dentre as bandas brasileiras (Ruído/mm, Labirinto, Ombu etc). O disco, composto por quatro músicas, não chega a ultrapassar a marca dos 30 minutos.

A banda consegue sintetizar muito bem aquelas influências de Godspeed You!  Black Emperor e Mogwai na primeira faixa “Todo Corpo Tem Um Pouco de Prisão” que logo constrói a atmosfera do EP com melodias de guitarra suaves e carismáticas que depois dão lugar a sintetizadores também muito marcantes. Seguindo depois para “Janela Aberta”, mais uma música que te dá um tapa na cara com todo aquele clímax depois da marca dos 4 minutos.

Ao decorrer do disco é notável o cuidado que a banda teve em formar um conceito para cada música como se estivesse te contando uma história em forma de licks, arpejos e viradas na bateria e todos aqueles crescendos emocionantes que dá gosto de ouvir.

Mostrando que o cenário de bandas brasileiras pode atender a quase todos os gostos, a banda da o seu recado com esse EP.  A ouvida deste é obrigatória não só para fãs de post rock, mas para todo mundo que quer se surpreender com algo gravado em terras tupiniquins.

Nota final: 8/10.

Você pode baixar o EP Vazio gratuitamente no bandcamp da banda ou ouvir no youtube:

Father John Misty – I Love You, Honeybear (2015)

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Misty, a primeira vista, pode parecer o seu típico cantor/escritor de músicas Folk, um cara barbudo com todo aquele arranjo típico do gênero em sua sonoridade, expondo as profunidades de sua alma para quem quer tenha a paciência de ouvir o que ele tem a dizer. Ele também tem um twist de pegar um tema bonito como o amor e fazer uma música sobre ele da maneira mais cínica, pervertida e as vezes até repulsiva possível, liricamente falando.
Se você não ouvir atentamente as letras do álbum e deixar I Love You, Honeybear tocando de fundo enquanto lava a louça, é bem possível confundir com a música típica e sensível que muitas vezes é o produto que cantores Folk talentosos têm a oferecer. Só que aqui toda essa temática é nos servida de uma maneira…doentia? Não sei se chega a ser a palavra certa, nesse álbum existe uma linha tênue entre o genial e o repulsivo. A música The ideal husband (o marido ideal), por exemplo, conta com um belo instrumental pontualmente meio voltado prum garage rock, embalado numa atmosfera bem amigável que esconde uma sátira sobre exatamente o que é não ser o marido ideal. É assim que a maioria das músicas do álbum funciona, com bastante cinismo escondido sobre um rico e belo instrumental folk deveras sensível e uma produção igualmente simpática.

Eu já falei que Misty é ex-integrante do Fleet Foxes? Pois bem, tá falado então. Não apenas é ex-percusionista de uma das maiores bandas de folk recentes, como também tem bastante trabalhos no seu currículo: é recomendável a qualquer fã desse folk meio americana mergulhar em trabalhos prévios de J. Tillman, alcunha pela qual Misty atendia anteriormente (seu nome verdadeiro é Josh Tillman). Já como Father John Misty, Tillman apenas havia lançado mais um álbum, Fear Fun, que não é tão bom quando este atual, mas definitivamente tem lá os seus méritos.

Instrumentalmente falando, este LP é magnífico, tem bastante pianos, violinos, arranjos instrumentais realmente bonitos e o destaque fica pros incríveis crescendos instrumentais. Não bastasse isso, I Love You, Honeybear também conta com diversos estilos salpicados entre as diversas músicas dando um ar ainda mais rico para a instrumentação. Você pode esperar ouvir influências pop, garage rock, Soul e até eletrônica no álbum, o que é muito bom, mas faz umas faixas se destacarem mais do que outras pelos motivos errados, como por exemplo True Affection. Embora a maioria dessas alternâncias possam soar orgânicas, algumas acabam por não descer direito. A mixagem é um deleite, que te deixa apreciar bastante o instrumental ao mesmo tempo em que as letras insanas e as histórias que Tillman conta fluem com clareza para o seu ouvido. Sobre a temática lírica abordada no álbum temos solidão, morte, sexo, amor e política, mas tudo com aquela cara bem maluca e subversiva que Tillman consegue dar.

I Love You, Honeybear é tipo comer carne vermelha na casa de uma família cristã conservadora numa sexta feira santa, mas você cobre tudo com glacê pra todo mundo achar que não passa de um bolo. Tudo bem que o gosto deve ficar uma merda, mas não é esse o paralelo que tento traçar, e sim de que o álbum é bem subversivo e vale muito a pena dar uma conferida.

NOTA FINAL: 8.5/10

Palinha: